Foto: REUTERS/Wolfgang Rattay/Direitos Reservados Fonte: Agência Brasil
No quarto ano de pandemia da Covid-19, a doença finalmente deixou de ser apontada como a principal preocupação de saúde pela maioria da população mundial. Agora, a saúde mental passou a ser citada como a questão de maior relevância ao redor do planeta. O bem-estar psíquico está acima até mesmo da apreensão com o câncer, que costumava liderar o levantamento no período pré-pandêmico.
O cenário é apontado pela nova edição da pesquisa ‘Monitor Global dos Serviços de Saúde’, realizada pela empresa de pesquisa Ipsos entre julho e agosto deste ano, com 23.274 pessoas, em 34 países.
— O monitoramento começou em 2018 e ganhou ainda mais relevância durante a pandemia. Desde o início, o objetivo é acompanhar os impactos da saúde nas pessoas e nas sociedades. Mas também se mostrou uma ferramenta muita rica para revelar situações e dificuldades e nortear iniciativas e políticas públicas — diz o CEO da Ipsos no Brasil, Marcos Calliari.
Em 2020, primeiro ano da crise sanitária, quando perguntados sobre quais os problemas de saúde que o entrevistado considerava como os principais, dentro de uma lista de opções, 72% responderam a Covid-19. No ano seguinte, a percepção pouco mudou, com o percentual indo a 70%.
Já em 2022, com a melhora do cenário epidemiológico e o avanço da vacinação, somente 47% da população global ainda citava o novo coronavírus no levantamento. Ainda assim, o patógeno permanecia no topo da lista de preocupações – tanto no mundo, como no Brasil, onde 62% mencionavam a doença.
Já neste ano, o quarto em que o mundo lida com o vírus descoberto no fim de 2019, na China, o percentual de entrevistados que citam a Covid-19 caiu drasticamente, para apenas 15% ao redor do planeta, e para 23%, entre os brasileiros.
Com isso, a maior preocupação de saúde passou a ser a saúde mental, apontada por 44% da população global, mais que o dobro dos que ainda citam a Covid-19. Além disso, no Brasil, esse percentual é acima da média mundial: mais da metade dos mil brasileiros que participaram da pesquisa (52%) citam o bem-estar da mente como prioridade.
— Por muito tempo, a saúde mental foi vista como de importância menor, com boa parte da sociedade, incluindo parte da classe médica, não dando o devido valor às consequências catastróficas que estes problemas poderiam causar. Mas a pandemia mudou drasticamente a nossa relação com o imprevisível. O confinamento intensificou quadros de estresse, ansiedade e depressão e é, absolutamente, um divisor de águas na importância com a qual as pessoas passaram a olhar para esta pauta — avalia o CEO da Ipsos Brasil.
Esse padrão é observado entre todas as faixas etárias e em ambos os sexos ao redor do planeta. A única exceção são os baby boomers, geração nascida entre 1947 e 1963, ou seja, que hoje têm entre 60 e 76 anos. Para eles, a principal preocupação de saúde hoje é o câncer.
— Chama a atenção também que a Geração Z, a mais jovem entre os adultos, é o grupo etário que mais cita a saúde mental e que tem um maior distanciamento deste para os outros problemas de saúde citados. As mulheres também relatam, de maneira expressiva, maior preocupação com o tema que os homens — afirma Calliari.
Os principais problemas de saúde no mundo
Desde a primeira rodada da pesquisa, em 2018, a saúde mental tem se tornado um ponto de preocupação para cada vez mais entrevistados. Nas duas edições iniciais (2018 e 2020, já que em 2019 o levantamento não foi feito), cerca de 27% das pessoas citavam a questão. Nos anos seguintes, o percentual subiu para 31%, 36% e, agora, chegou a 44%.
Em segundo lugar, 40% da população global cita o câncer. O número era de 52% em 2018, quando ocupava o primeiro lugar do ranking. Embora tenha diminuído ao longo dos anos, permanece entre as principais menções da população e subiu seis pontos percentuais em relação a 2022, destaca Calliari:
— Embora tenhamos presenciado diversos avanços da medicina nos últimos anos, a natureza imprevisível da doença, o tratamento longo e complexo e as altas taxas de letalidade ainda fazem do câncer uma das enfermidades mais temidas.
Na terceira posição, está o estresse, citado por 30% dos entrevistados. Em sequência, a obesidade, por 25%; o abuso de drogas, por 22%; a diabetes, por 18%; o abuso de álcool, por 17%; as doenças cardíacas, por 15%, e a Covid-19, que caiu para a nona posição, também com 15% das citações.
Na lanterna, mencionados por 12%, 8%, 4% e 3% da população, respectivamente, estão o tabagismo, a demência, as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e as superbactérias em ambientes hospitalares. Os entrevistados podem indicar mais de uma opção, por isso a soma dos valores é superior a 100%.
Principais queixas no Brasil
No Brasil, somente 18% citavam o bem-estar psíquico no início do monitoramento, percentual que logo subiu para 27%, em 2020; 40%, em 2021; 49%, no ano passado, e chegou a 52% agora – 8% a mais do que a média global. Esse “crescimento exponencial” de 34 pontos percentuais é um dos fatores que Calliari sublinha entre os resultados da pesquisa.
Em segundo lugar, assim como no mundo, está o câncer, citado por 38% dos brasileiros. Na terceira posição, porém, de modo diferente do cenário global, que menciona o estresse, 36% dos entrevistados no Brasil apontam o abuso de drogas. Na sequência, 29% citam o estresse; 23%, a Covid-19; 20%, a obesidade; 19%, problemas cardíacos; 17%, a diabetes e outros 17%, o abuso de álcool.
A pesquisa avaliou ainda a percepção dos brasileiros sobre o sistema de saúde. 35% o classificaram como “ruim”, acima da média global, em que 20% criticam os serviços. Já 31% consideraram o sistema do Brasil “bom”, um percentual abaixo dos 48% da média dos 34 países. As nações que mais aprovam os seus sistemas de saúde são Cingapura (71%), Suíça (68%) e Malásia (66%).
Ainda de acordo com o levantamento, 44% dos brasileiros apontaram o acesso a tratamentos médicos e os longos tempos de espera como o principal problema que o sistema de saúde brasileiro enfrenta. Em segundo lugar, 43% dos entrevistados mencionaram a falta de investimento em saúde preventiva, seguido pela falta de investimento geral no sistema de saúde (40%).
Fonte: O Globo
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