Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Diante da escassez dos recursos da caderneta de poupança, a Caixa Econômica Federal está apertando as condições dos empréstimos habitacionais para a classe média e vai mudar os valores mínimos de entrada.
Na linha de empréstimos mais usada, a cota de financiamento foi reduzida de 80% para 70%, o que exige dos mutuários um valor maior de entrada, de 30%. O banco está mirando imóveis de menor valor e está sendo ainda mais rigoroso na análise de risco para conceder o crédito.
Os recursos da poupança fazem parte do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos (SBPE), que financia imóveis de até R$ 1,5 milhão, com juros limitados a 12% ao ano.
No caso da outra linha de financiamento, a tabela Price, em que as prestações pagas pelo mutuário são sempre iguais e com mais juros, a cota máxima de financiamento admitida passará de 70% para 50% do total do imóvel. As mudanças passam a valer a partir de 1º de novembro.
A alteração nas cotas de financiamento e a limitação no valor do imóvel a R$ 1,5 milhão não se aplicam às unidades habitacionais vinculadas a empreendimentos financiados pelo banco, mantendo-se nesse caso as condições vigentes atualmente.
A três meses para fechar o ano, a Caixa praticamente esgotou a meta de contratações de R$ 70 bilhões para 2024. Até setembro, foram desembolsados R$ 63,5 bilhões, segundo dados do banco. Ou seja, em nove meses, o banco emprestou o equivalente a 90% de tudo que tinha disponível.
Com a demanda aquecida, a Caixa, que é líder no crédito imobiliário e abocanha cerca de 70% desse mercado, está administrando os contratos para não suspender as operações. Nas agências, porém, há relatos de contratos cujo financiamento não foi liberado.
A escassez de recursos tem como pano de fundo um volume menor de depósitos na caderneta de poupança, principal fonte de financiamento para as linhas de crédito habitacional voltadas à classe média. Uma alternativa seria utilizar recursos próprios o que, num cenário de alta da taxa básica de juros, tornaria a operação inviável. Geralmente, os empréstimos habitacionais são de longo prazo.
Mais recursos do FGTS para Minha Casa Minha Vida
O problema da falta de recursos para o setor imobiliário só não é maior porque o FGTS destinou R$ 120 bilhões para empréstimos no Minha Casa Minha Vida, somando a suplementação de quase R$ 23 bilhões para evitar falta de recursos no último trimestre do ano.
Mas o programa só permite comprar imóvel no valor de até R$ 350 mil e é restrito a famílias com renda de até R$ 8 mil. O presidente Lula prometeu ampliar o programa às famílias de classe média, com renda de até R$ 12 mil, mas a medida não saiu do papel.
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Renato Correia, disse que a Caixa reduziu o ritmo dos financiamentos e elevou o custo do crédito imobiliário.
— Sendo um banco público, a gente crê que a Caixa não vai paralisar as contratações, mas o financiamento ficou mais caro — disse Correia.
Em nota, a Caixa disse que busca alternativas para atender a demanda:
"Informamos que a Caixa estuda constantemente medidas que visam ampliar o atendimento da demanda excedente de financiamentos habitacionais, inclusive participando de discussões junto ao mercado e governo, com o objetivo de buscar novas soluções que permitam expansão do crédito imobiliário no país, não somente pela Caixa, mas também pelos demais agentes do mercado".
*com O Globo
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