A população poderá utilizar o ConecteSUS como comprovante de vacinação digital a partir do segundo semestre deste ano. A previsão é de Eder Gatti, diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde.
Em entrevista ao Metrópoles, o infectologista explicou que a medida faz parte de uma grande reforma nos sistemas de informação do PNI, vista como essencial para que a pasta consiga realizar maiores campanhas de vacinação e atingir o objetivo de aumentar as coberturas vacinais do país. Os registros de vacinação a nível nacional, de acordo com o diretor, estavam “completamente desorganizados” quando ele assumiu o cargo, no início deste ano.
“A dose que é feita, ela precisa ser computada e precisa ser unificada em uma base nacional. Isso estava completamente desorganizado e compromete a qualidade dos dados, dos registros administrativos e estamos num esforço muito grande para corrigir. A gente espera, até o meio do ano, estar com todos os sistemas de informação organizados para o Brasil inteiro, tanto os sistemas que computam as vacinas de campanha quanto aqueles que computam vacinas de rotina”, explica.
Hoje, é possível emitir o comprovante de vacinação contra a Covid-19 por meio do ConecteSUS em tempo real porque os registros são enviados diretamente para a Rede Nacional de Dados de Saúde (RNDS). Já o lançamento das chamadas vacinas de rotina é enviado a outro sistema antes de chegar à RNDS.
“A partir do momento em que o dado da [vacina de] rotina ir direto para a RNDS, com regras de negócio organizadas, o ConecteSUS vai conseguir extrair essa informação”, afirma. “A carteira vacinal digital é uma realidade para a Covid e logo será para [as vacinas de] rotina, via ConecteSUS.”
Entre as prioridades do departamento, Eder destaca também a regularização dos estoques de vacina. “A gente tem situações extremas relacionadas ao estoque que, enfim, sobram algumas vacinas, faltam outras vacinas e é um planejamento que a gente herdou e temos que lidar com isso. Então nós tivemos que equilibrar essas coisas para poder desenvolver ações de vacinação”, pontua.
O diretor afirma ter conseguido antecipar entregas das vacinas tríplice viral e contra a hepatite B. Já o imunizante BCG tem sido importado desde que a produção nacional da vacina na fábrica Fundação Ataulpho de Paiva foi interrompida, em 2017. A previsão é de que, no próximo ano, a produção nacional desta vacina seja normalizada com o apoio de Bio-Manguinhos, da Fiocruz.
“O problema maior hoje é a vacina oral da pólio, que inclusive é um freio para a gente iniciar a ação de multivacinação, porque a gente teve que importar, tivemos problemas com a produção nacional, que é um problema crônico”, explica Eder Gatti. Oito milhões de doses foram importadas pelo ministério e aguardam liberação do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) para serem distribuídas.
“A partir de setembro, talvez outubro, a gente começa a receber a VOP, a vacina oral da pólio de Bio-Manguinhos. Regularizando a vacina oral da pólio, a gente tem condições melhores para fazer uma ação de multivacinação mais ampla”, diz.
Campanha de multivacinação - Com estoques regularizados e sistemas de informação adequados, o ministério estará pronto para começar a campanha de multivacinação. “E aí, a gente está de olho, porque a vacinação é prevenção, mas também é contenção. A partir do momento em que a gente identifica casos de febre amarela na fronteira com o Mato Grosso do Sul, ou identifica epizootia de febre amarela, que é macaco com febre amarela, no Rio Grande do Norte, isso exige da gente uma pronta ação”, explica Gatti.
É pelo risco epidemiológico que a multivacinação será iniciada, de maneira excepcional, nos estados do Acre e Amazonas em maio. As unidades da federação fazem fronteira com o Peru, que registrou o primeiro caso de poliomielite depois de 32 anos.
Outro obstáculo a ser enfrentado pela pasta, porém, é a crescente desconfiança nos imunizantes. Apesar de ainda pequeno, o movimento antivacina tem aumentado a atuação no país desde 2019, com ações cada vez mais contundentes e campanhas de desinformação.
“Precisamos amadurecer a nossa comunicação para enfrentar esse tipo de ataque à confiança, mas esse não é um problema só nosso, esse é um problema do país como um todo”, ressalta Eder. “O legislativo precisa legislar. Até quando a gente vai ter esse tipo de ataque à saúde pública vindo de forma anônima e covarde? Precisamos de leis que regulamentem isso.”
Fonte: Metrópoles
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