A depressão afeta mais mulheres, com 14% dos casos, do que homens, com 7%, de acordo com a pesquisa Vigitel, divulgada no ano passado. Segundo o estudo, o número de diagnósticos da doença está diretamente ligado à pandemia de Covid-19. Em 2020, os casos já haviam passado de 4,2% para 8% nos primeiros meses.
Conforme a pesquisa, outros fatores preocupantes foram percebidos como o crescimento no consumo exagerado de álcool e a redução da prática de atividades físicas. A população feminina também foi a mais afetada nesses casos.
A pesquisa Vigitel tem como objetivo conhecer a situação de saúde da população para que estratégias sejam tomadas. Em 2021, foi a primeira vez que o estudo abordou casos de depressão.
Influência dos hormônios femininos e genética
De acordo com a psiquiatra Tainá Carvalho, fatores como os hormônios femininos e a genética podem contribuir para desenvolvimento da depressão em mulheres.
Segundo ela, o transtorno depressivo, assim como os demais transtornos em psiquiatria, apresenta uma etiologia multifatorial, ou seja, é causado por uma combinação de fatores ambientais e mutações em genes múltiplos.
“Por isso não falamos em doença depressiva, já que não há um agente etiológico único. Logo, a genética e o campo hormonal são fatores relevantes para considerar na expressão do adoecimento em uma família, na resposta farmacológica, mas não são suficientes para resumir a causalidade do transtorno”, explica.
Já com relação à depressão pós-parto, a profissional afirma que o transtorno pode ser confundido com a alteração hormonal típica desse período, sendo importante fazer um diagnóstico diferencial.
“A causa também é multifatorial, sendo necessário estar atento às singularidades. Pelo olhar da psiquiatria, é preciso ficar atento com o histórico de transtorno bipolar na família quando a mulher apresenta sintomas depressivos no puerpério, que podem indicar uma depressão bipolar”, informa.
Tratamento
Para a psiquiatra, a psicoterapia é uma via fundamental como forma de tratamento e forma de contornar a dor psíquica sejam encontradas, sendo a base do tratamento. “A atividade física também é importante, sendo ela voltada a algo do gosto do sujeito, promovendo o bem estar”.
Além disso, ela afirma que a medicação antidepressiva pode ser utilizada quando bem indicada por um profissional, levando em consideração os sintomas de cada um.
“Já que, apesar do nome ‘depressão’, cada um expressa de um jeito. A exemplo de que uns podem ter insônia e outros dormir bastante. Então, a farmacologia estará aliada a uma escuta qualificada”.
A psicóloga Fernanda Medeiros explica que a depressão é uma doença multifatorial que gera alteração do humor. Pesquisas reforçam que existe uma maior prevalência de mulheres desenvolverem a depressão, para a psicóloga, esse fato pode se dar por diversos motivos, entre eles, fatores hormonais e ambientais. Ela cita como exemplo a sobrecarga de várias jornadas ao longo do dia e observa que esses números podem ter relação com a resistência dos homens em buscar assistência médica e psicológica devido a sintomas depressivos.
Medeiros analisa que os sintomas mais comuns são: tristeza profunda, irritabilidade, angústia, perda de interesse em atividades antes vistas como prazerosas, alteração no padrão de sono, alteração nos padrões alimentares, desânimo, pessimismo, interpretação distorcida e negativa da realidade, baixa-autoestima e/ou alteração na libido. Ela aponta ainda que em casos mais graves, também é comum haver isolamento capaz de afastar o indivíduo do trabalho e do convívio social, além de provocar pensamentos que podem culminar em comportamentos e atos suicidas.
No entanto, a psicóloga avalia que por se tratar de uma doença multifatorial, devemos levar em consideração alguns fatores, para que se faça um diagnóstico, tais como: histórico familiar, causas biológicas (disfunções hormonais e outras patologias), e fatores externos, tais como: eventos estressantes (perda de emprego, separação conjugal, gestação), solidão, consumo de álcool e drogas, traumas físicos e psicológicos, uso excessivo da internet e das redes sociais, entre outros.
Ela alerta para que ao perceber alterações no humor que tragam prejuízo para sua vida, o ideal é buscar ajuda profissional, com um médico psiquiatra e psicoterapia. A psicóloga conta que a combinação de antidepressivos e acompanhamento psicológico continua sendo a melhor estratégia para reverter o quadro, além de buscar também uma rede de apoio, seja ela familiar ou não.
“O diagnóstico da depressão é clínico, realizado através de entrevistas, questionários, escalas e/ou testes psicológicos que são realizados por profissionais especialistas em saúde mental, como médicos psiquiatras e psicólogos. Também se leva em consideração o histórico familiar, exames laboratoriais para que se descarte qualquer outra doença e possíveis fatores estressantes que possam estar vivendo”, explica.
Tristeza, falta de ar, taquicardia, medo paralisante e ausência total de apetite. Esses foram os sintomas que a jornalista Vanessa Alencar sofria quando foi diagnosticada com depressão, há 20 anos. Ela relata que na época, o tema não era abordado com frequência, por isso passou por diversos médicos antes da descoberta.
“Descobri que estava com depressão”
A jornalista expõe que buscou ajuda quando surgiram os primeiros sintomas, mas descartou a possibilidade de estar com depressão. “Quando fui diagnosticada, por uma médica clínica geral, que me encaminhou para um psiquiatra, fiquei surpresa, porque descobri que estava com depressão e síndrome do pânico. Naquele momento, na minha cabeça, uma pessoa bem-humorada como eu jamais poderia ser vítima de algo assim”, conta.
Ela destaca que a maior dificuldade de conviver com a doença aconteceu quando os sintomas começaram a aparecer, devido ao preconceito com medicações para tratar a depressão.
“Larguei muitas vezes o remédio antes de entender e aceitar que, no meu caso, a medicação é necessária, essencial e, provavelmente, por uma questão de controle da doença, vou precisar dela para o resto da vida”, relata a jornalista.
Para Alencar, o processo de luta contra os remédios permaneceu durante anos. Atualmente, a jornalista mantém a qualidade de vida através do tratamento e medicação correta. Ela reforça a importância de procurar atendimento especializado ao apresentar os sintomas.
“Fiquei muito “eufórica” no início, quando os remédios começaram a fazer efeito, porque a vida voltou a fazer sentido para mim. As coisas voltaram a ser coloridas, mas como disse, larguei mais de uma vez a medicação, por conta própria, por preconceito, por não querer tomar remédios para o resto da vida, por achar que naquele momento que eu estava tão bem, poderia lidar com a doença sozinha”.
“Hoje, tomando remédio, faço terapia e farei o que mais for necessário para manter a qualidade de vida que a depressão me tirou algumas vezes”, concluiu.
Fonte: CadaMinuto
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