Grama instalada nos estádios do Catar foi melhorada geneticamente a partir de espécie nativa do Brasil, Austrália e continente africano. Empresa brasileira participou da instalação. — Foto: Divulgação/Greenleaf
Ainda não dá para dizer que a taça da Copa do Mundo de 2022 é nossa, mas, pelo menos, a grama usada nos oito estádios do Catar tem um toque brasileiro antes de ter sido melhorada geneticamente nos EUA, para ter as características ideais para o torneio.
Além disso, uma empresa do Brasil foi responsável por instalar essa variedade em cinco dos oito estádios da Copa. O país, porém, ainda não tem o registro da grama modificada geneticamente e, portanto, não pode produzi-la.
Essa grama usada no Catar é a Platinum TE Paspalum, nome da patente originária de uma modificação genética feita a partir da espécie Paspalum Vaginatum, que é nativa do Brasil, mas também da Austrália e do continente africano.
O principal ponto forte dela é a adaptabilidade a climas extremamente quentes e secos — como o do Catar — além de ter capacidade de irrigação com água do mar.
Patenteada nos EUA
A grama tem maior incidência em áreas litorâneas do Brasil, com presença em todos os estados do Nordeste e Sul e em alguns do Sudeste, Centro-Oeste e Norte, segundo mostra um catálogo do governo brasileiro chamado Flora do Brasil.
Espécie originária da grama da Copa é nativa do Brasil
Apesar da presença da espécie por aqui, a patente usada na Copa do Mundo de 2022 tem dificuldade de ser importada por conta da burocracia que o processo exige, comenta o agrônomo Patrick Ferreira.
Segundo ele, a importação pode levar até dois anos para ser aprovada pelo governo.
"Além de passar pela quarentena, ela precisa passar por um laudo — de estar isenta de pragas, doenças e plantas daninhas — que é uma outra empresa que precisa fazer, é uma situação bem complexa."
Origem da grama
A espécie também é nativa da África e da Austrália e especula-se que ela tenha sido levada para os EUA durante o século 18, em meio às navegações do período, segundo um estudo acadêmico do pesquisador James Beard, da Universidade Texas A&M.
Três séculos depois, no ano de 2005, a espécie foi objeto de um programa de melhoramento genético nos EUA, liderado pelo pesquisador Ron Ducan. A pesquisa deu origem à Platinum, que teve a sua patente registrada em 2007.
Plantio e instalação da grama
Grama foi plantada nos arredores dos estádios do Catar. A ideia é ter a grama disponível caso necessite reposição. — Foto: Greenleaf
A grama Platinum foi plantada nos Estados Unidos e levada para o Catar em mudas acondicionadas em caixas de papelão, em um avião refrigerado.
É o que explica Flávio Piquet, sócio da empresa brasileira Greenleaf, que participou da instalação de cinco dos oitos estádios da Copa do Catar: Al Bayt, Al Thumama, Education City, Ahmed bin Ali e Al Janoub.
As mudas foram plantadas nos arredores dos estádios, em "pequenas fazendas". "A ideia é que, se precisasse trocar o gramado da noite para o dia, isso seria feito com facilidade", conta Piquet.
Um fato importante é que toda grama precisa ser plantada em areia pura e jamais em solo argiloso, para que não haja retenção de água.
À medida em que as arenas foram ficando prontas, a Platinum TE Paspalum foi sendo instalada nos estádios.
Instalação da Platinum dos estádios do Catar. — Foto: Greenleaf.
nstalação da grama Platinum feita pela empresa brasileira Greenleaf. — Foto: Greenleaf
Irrigação adequada
A Platinum tem pouca resistência à umidade e é extremamente vulnerável ao surgimento de fungos. Por isso, ela precisa de cuidados específicos no manejo de água.
A irrigação subterrânea foi uma das alternativas encontrada pela Greenleaf durante a implantação do gramado no estádio Al Bayt, por exemplo.
Sem molhar a grama e o solo por cima, evita-se o acúmulo de água e, portanto, a proliferação de fungos, explica o sócio da Greenleaf Flávio Piquet.
"A irrigação subterrânea por si só já garante o crescimento das gramas, mas não foi possível usar só esse sistema, porque irrigar o gramado na superfície garante que a bola tenha mais velocidade", pondera Piquet.
Por conta disso, usa-se a irrigação sobre o solo somente antes das partidas de futebol, explica.
Cuidado após os jogos
Com o começo da competição os testes são reforçados para manter a qualidade do campo durante a maratona de jogos que a grama tem que suportar.
“A partir do momento que termina o jogo já se inicia a preparação para o próximo. Após a partida, já se faz uma avaliação, com uma série de análises com relação à qualidade do piso, velocidade da bola correndo, o quanto ela está pulando”, explica Rodrigo Santos, coordenador do centro de gramados esportivos e inovação da Itograss.
“Aí a gente irriga mais ou menos, aduba mais ou menos, aumenta a frequência de luz artificial, aumentar ou abaixa a altura de poda, ou pode até refazer o plantio em casos extremos".
Em trabalho conjunto com a Greenleaf, Santos foi o coordenador responsável pelo plantio do campo do estádio Al Janoub.
Grama do futebol brasileiro
Bermudas Celebration é tipo de grama mais usada no Brasil. — Foto: Itograss
A grama mais usada no futebol profissional do Brasil continua a ser a Bermudas Celebration, mais tolerante à umidade, diferentemente da Platinum.
“A gente hoje atende 80% dos clubes da série A e B com a Bermudas Celebration, seja nas arenas onde eles jogam ou nos centros de treinamento”, diz Rodrigo Santos.
Essa variedade tem pontos fortes que se encaixam com as características de clima e jogo por aqui:
Altíssima recuperação, o que a torna capaz de lidar com o calendário lotado de jogos e shows nos estádios brasileiros;
Adaptada ao clima tropical e à umidade;
Também suporta ficar bastante tempo na sombra.
Fonte|:ge
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