Ery Feitosa / Foto: Arquivo Pessoal
“Sem Jazigo devido ao crime da Braskem”, com esse título e a foto de Ery Feitosa, o Movimento Unificado das Vítimas da Braskem denunciaram mais um constrangimento sofrido pelas famílias dos bairros atingidos pelo afundamento do solo, em Maceió.
Morador do Flexal de Baixo, na região de Bebedouro, Ery faleceu no último final de semana e sua família queria fazer o sepultamento dele no Cemitério Santo Antônio, onde já possui jazigo, mas não foi possível, porque o cemitério está interditado, por conta do desastre ambiental provocado pela Braskem.
“É revoltante, ter um jazigo no cemitério e não poder sepultar um ente querido. Além disso esperar três dias para enterrar o corpo”, protestou Neirevane Nunes, coordenadora do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem.
Segundo ela, depois de muitas idas e vindas, a família conseguiu enfim autorização da Prefeitura de Maceió para sepultar, no começo desta semana, o corpo de Ery no Cemitério de São José, no Trapiche da Barra.
Neirevane Nunes disse que o certo seria a Braskem arcar com um novo cemitério, já que o cemitério de Santo Antônio foi interditado há mais de 2 anos e não pode receber mais sepultamento, porque está na área de risco, está dentro do mapa de criticidade da Defesa Civil.
“A prefeitura tornou o Cemitério Santo Antônio em Memorial para ser preservado como espaço para visitação dos túmulos, mas quando morre uma pessoa dos bairros atingidos pela mineração não temos onde enterrar”, reclama a coordenadora do MUVB.
Ela diz que as famílias que têm jazigo no cemitério interditado esperam uma reparação por esse dano. “Que a Braskem devolva ao município um novo cemitério e que estas famílias sejam ressarcidas para que possam adquirir um jazigo em outro cemitério e assim poder sepultar seus mortos com dignidade”, reivindica.
Na postagem que fez nas mídias sociais, para denunciar o constrangimento que as famílias passam para sepultar seus entes queridos, o MUVB diz que Ery Feitosa faleceu no domingo e só conseguiu ser sepultado hoje (quarta-feira, 26 de abril), no Cemitério João José, que está superlotado, assim como os demais cemitérios de Maceió.
“O serviço funerário municipal está em colapso e nada é feito! Os munícipes hoje são sepultados em covas rasas cobertas por areia nos passeios públicos dos Cemitérios de São José e Nossa Senhora da Piedade. Isso é aviltante!”, protestam.
“As famílias que possuem jazigos no Cemitério Santo Antônio foram lesadas pela Braskem e esperam até hoje pela reparação por mais esse dano. A situação é crítica e precisamos de respostas urgentes! Não podemos aceitar tamanho descaso e desrespeito!”, concluem os integrantes do MUVB.
OUTRO LADO
“Sobre o Cemitério Santo Antônio, a Braskem continua em diálogo com as autoridades para buscar uma solução conjunta que atenda à comunidade. Neste sentido, a empresa e o Município seguem realizando discussões técnicas para a adoção das medidas necessárias”, afirma a mineradora, em nota.
Ainda de acordo com a nota da assessoria da Braskem, “a região já conta com um sistema de monitoramento da estabilidade do terreno e segurança patrimonial. Além disso, a Braskem realiza serviços de limpeza e manutenção no local”.
Movimento recebe Estudo de Impacto Ambiental contratado por mineradora
O Movimento Unificado das Vítimas da Braskem recebeu ontem, cópias do Termo de Referência e do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), realizado por duas empresas contratadas pela mineradora, para fins de licenciamento das atividades e intervenções que compõe a demolição nas áreas de subsidência dos bairros do Pinheiro, Mutange, Bebedouro e Bom Parto.
O Termo de Referência tem 61 páginas e é assinado pelos representantes da Temis Projetos de Meio Ambiente e Sustentabilidade, o engenheiro ambiental Fabiano Carbalho Melo e o geólogo Pedro Bittencourt Coutinho.
Os técnicos fizeram uma série de recomendações à Braskem e ao Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), além de apresentarem projetos como a Construção de um Centro de Educação Ambiental, a instalação de uma Torre de Observação e a elaboração de Mapa de Vegetação, com base em imagens de satélite e para a classificação de formações nativa das áreas atingidas pelo afundamento do solo, em Maceió.
As propostas e recomendações ainda estão sendo estudadas pelos integrantes do Movimento e seus convidados. Por isso, ainda não receberam aprovação e rejeição dos moradores dos bairros afetados pela mineração.
O documento, produzido pelas empresas contratados pela Braskem, foi elaborado no âmbito do Estado de Impacto Ambiental, “com foco na demolição e outras atividades de apoio, a serem desenvolvidas nas Áreas do Mapa de linhas de ações prioritárias emitido pela Defesa Civil do Município de Maceió, em dezembro de 2020.
O Termo de Referência foi concluído em junho 2022 e o Estudo de Impacto Ambiental em dezembro do mesmo ano, mas só agora às vítimas da Braskem tiveram acesso a eles, apelando para Lei de Acesso à Informações.
A documentação é densa, o EIA tem 468 páginas. Começa com a identificação da contratante (Braskem), prossegue com o perfil das empresas contratadas, a identificação da equipe técnica e o conteúdo do estudo.
Com foco nas áreas dos imóveis desativados e demolidos, o Estudo faz uma caracterização dos bairros atingidos, mas deixa de fora o Farol. Apresenta sugestões a serem desenvolvidas nas áreas atingidas pelo afundamento do solo, de acordo com as ações prioritárias traçadas pela Defesa Civil de Maceió.
De acordo com os técnicos, o “estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental (EIA/Rima) subsidiará as decisões a serem tomadas pelo poder público, em conformidade com os representantes dos moradores, da Defesa Civil e dos órgãos de fiscalização e controle, a exemplo do Ministério Público Estadual, do Ministério Público Federal e da Defensoria da União.
O estudo foi direcionado à Braskem S.A., em nome das diretoras Daniella Cysneiros D’Arrola Pedrosa e Silva Albuquerque Correa de Araújo, com data de 22 de junho de 2022.
Fonte: Tribuna Hoje
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