Um levantamento feito pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), com base nos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), mostra que as pequenas empresas foram responsáveis pela criação de 85% das vagas de trabalho de fevereiro.
Em números absolutos, foram 206.697 vagas abertas por negócios de pequeno porte, o que corresponde a 85% dos 241.785 novos postos de trabalho.
Em 2022, segundo o mesmo levantamento, esse tipo de empresa teve 78,4% de participação na geração total de empregos.
Um desses negócios é o do maranhense Ricardo Silva Carvalho, de 41 anos. Nascido em Sambaíba (MA) e radicado em Brasília há quase 20 anos, não foi de um dia para o outro que aprendeu a fazer sushi. “Demorei um ano, e as aulas foram no restaurante em que eu trabalhava”, contou.
Ele se tornou chef e, durante a pandemia, passou a entregar comida japonesa na casa das pessoas para complementar a renda. Economizou tudo o que podia, e o projeto deu tão certo que o sonho de se tornar empresário virou realidade em 2023. “Abri um fast-food de sushi com minha esposa neste ano", disse. O casal já contratou seis funcionários.
A história do empreendimento de Ricardo está longe de ser um caso isolado. Para o economista Roberto Piscitelli, professor da UnB (Universidade de Brasília), as vagas geradas pelas pequenas empresas reduzem a concentração de economia. Ele explica que esse tipo de negócio auxilia a capilarizar os circuitos econômicos e tende a desconcentrar a riqueza.
“Além disso, essas oportunidades tendem a absorver uma mão de obra que depende de menos tecnologia. Por isso é tão importante que sejam oferecidos programas de incentivo para pequenas e médias empresas”, afirma o economista. Outra vantagem, lembra Piscitelli, é que as vagas geradas também costumam ser mais perto da casa das pessoas.
Na avaliação da professora de economia Juliana Bacelar, da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), o levantamento ressalta o peso das pequenas empresas na geração de emprego, que é mais relevante nos serviços do que no comércio.
Segundo o Caged, o ramo de serviços foi o que gerou mais empregos em fevereiro, com 135.238 contratações. Depois, vem a indústria de transformação, que respondeu por 37.429 vagas, enquanto a construção criou 22.600 postos. O comércio teve saldo negativo, com o fechamento de 1.344 vagas de trabalho.
"Não é a toa que, quando a gente fala sobre os segmentos que estão puxando a economia, é o setor de serviços [que se destaca], porque é onde as oportunidades, de fato, estão mais presentes. Os setores que estão crescendo mais são alimentação e educação. Eu acho que reflete muito o movimento da dinâmica econômica. Mas o comércio não está decolando em termos de atividade econômica", analisa a professora.
Recuo nas médias e grandes empresas
As médias e grandes empresas tiveram saldo negativo pelo segundo mês consecutivo, com mais demissões do que contratações. No acumulado de 2023, dos 326.356 empregos gerados, 83% foram nas MPEs (micros e pequenas empresas).
Para o Sebrae, os dados atestam a importância dos pequenos negócios para a economia nacional, pois geram renda e contribuem para assegurar a cidadania de milhares de pessoas e suas famílias. “Falar de desenvolvimento econômico e social é falar da micro e pequena empresa”, afirmou o presidente da entidade, Décio Lima.
Os dados acompanham o histórico, que já vinha se mostrando promissor no ano passado, quando, a cada dez postos de trabalho gerados no Brasil, aproximadamente oito foram criados pelas micros e pequenas empresas.
O acumulado do ano ultrapassou 2 milhões de novas vagas, sendo quase 1,6 milhão delas nos pequenos negócios, cerca de 78,4% do total. Em 2021, a participação das MPEs no saldo total foi de 77%. A média já é maior em 2023 (83% do total).
Investimento
O casal que vive em Brasília está otimista com o restaurante de sushi. “Está sendo melhor do que o esperado. A gente acha que, em um ano, vamos conseguir ter o retorno do nosso investimento”, diz a sócia do negócio, Patricia Souza Moreira, 44 anos, esposa de Ricardo.
O casal calcula ter feito um investimento inicial de cerca de R$ 50 mil no negócio. Além disso, eles também têm um food truck com o mesmo tipo de comida. “Temos a expectativa de, até o fim do ano, conseguir abrir um segundo restaurante”, conta Patricia.
Essa é uma boa notícia também para quem trabalha para o casal. O sushiman Luiz Carlos Pereira, 37 anos, pai de três filhos, diz que ficou desempregado por um ano durante a pandemia. “Estava vivendo de bicos e, finalmente, consegui um emprego ‘fichado’ [com registro na carteira de trabalho], fazendo algo de que eu gosto. É gratificante”, falou.
Para ele, o arroz, o salmão, as algas e os peixes com os quais mexe todos os dias têm, agora, um sabor de recomeço.
Fonte: R7
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