No mais recente pleito presidencial na Argentina, o economista ultraliberal Javier Milei, do partido A Liberdade Avança, foi vitorioso conquistando 55,76% dos votos e derrotando o candidato governista Sergio Massa.
Os planos do novo governo definem o futuro da Argentina e podem alterar a dinâmica do comércio com o Brasil. Mas quais os possíveis impactos do novo governo na economia de Alagoas?
Setor sucroalcooleiro
O presidente eleito, Javier Milei, sinaliza uma mudança no cenário econômico argentino, vislumbrando o fim do Banco Central e a adoção completa da dolarização.
Ao Cada Minuto, o economista Diego Farias destaca as possíveis ramificações dessas medidas para Alagoas. "A facilidade nas exportações do setor sucroalcooleiro, pilar da economia estadual, pode se intensificar. Além disso, a importação de adubos e fertilizantes, crucial para a agricultura alagoana, poderá se tornar mais acessível, impactando positivamente toda a cadeia produtiva do agronegócio."
Diego Farias
Atualmente, a Argentina é o 3º maior comprador dos produtos brasileiros, com US$ 14,9 bilhões negociados entre janeiro e outubro deste ano, conforme estatísticas do Comex Stat, plataforma do Ministério da Indústria, Comércio e Relações Exteriores.
Nesse contexto brasileiro, Alagoas exportou US$ 550.265 para a Argentina e importou US$ 17.792.245 no decorrer deste ano, de acordo com os dados levantados.
De acordo com o economista, a necessidade de conter a inflação e estabilizar a taxa de câmbio levará o novo governo argentino a adotar medidas como a redução de impostos e privatizações de empresas estatais, seguindo uma abordagem que remete às políticas bem-sucedidas do ex-presidente brasileiro FHC.
"O êxito dessas medidas pode resultar em uma redução significativa nos preços dos adubos e fertilizantes, aliviando os custos para Alagoas, que é um grande importador desses insumos."
O especialista analisa ainda que a corrente liberal proposta pelo novo governo argentino inclui a facilitação do comércio e a eliminação de barreiras tarifárias e protecionistas.
"A proximidade comercial com a Argentina, principal parceira do Brasil, abre portas para preços acessíveis, diversidade de produtos, fortalecimento das relações bilaterais e um mercado mais variado, proporcionando oportunidades para uma ampla gama de importações."
Farias ressalta que apesar dos desafios decorrentes da recente crise econômica argentina, os empresários e empreendedores alagoanos podem vislumbrar oportunidades significativas caso as reformas propostas por Milei surtam efeito. “As dificuldades podem ser superadas pelas vastas oportunidades que surgirão se o novo governo conseguir estabilizar a economia argentina."
O discurso ultraliberal de Milei levanta questionamentos sobre a continuidade do acordo entre Mercosul e União Europeia. No entanto, Farias pondera e diz que: "Embora as declarações durante a campanha tenham sido contraditórias, o rompimento desse tratado, crucial para a liberalização comercial, seria paradoxal. Contudo, o fortalecimento das economias de Brasil, Paraguai e Uruguai pode mitigar os impactos negativos na unidade do bloco."
“Inflação alarmante”
A ascensão de Javier Milei à presidência argentina reflete, segundo o economista Marcelo Bastos, um profundo desgaste do grupo peronista que esteve no poder após a ditadura. Em entrevista, Bastos compara esse cenário ao desgaste do Partido dos Trabalhadores (PT) no Brasil antes da eleição de Jair Bolsonaro.
Marcelo Bastos
"Na Argentina, a economia está em frangalhos, com uma inflação alarmante de 140% ao ano. O desemprego e a alta inflação desgastaram a população, que se cansou de votar nos peronistas. Já houve tentativas de mudança, como na eleição de Maurício Magro, mas as reformas necessárias não foram implementadas, resultando em novo retorno dos peronistas ao poder. O desgaste persiste, com inflação ainda elevada, atingindo 140%", explica Bastos.
A análise do economista ressalta que o povo argentino, exausto e desgastado, buscou uma alternativa política fora do establishment. Milei, representando uma nova abordagem política com apenas dois anos de existência como partido, conquistou a presidência com uma diferença de 12% em relação ao segundo colocado.
Bastos destaca a relevância dessa mudança para a economia argentina e as implicações para o Brasil, um dos principais parceiros comerciais do país vizinho. "O presidente eleito é de extrema direita, de uma linha completamente diferente, e demonstra aversão ao presidente brasileiro. Isso pode gerar problemas nas relações diplomáticas entre os dois países, especialmente considerando a proximidade entre o presidente argentino e o ex-presidente Lula."
A análise do economista aponta que o presidente eleito, durante a campanha, anunciou a intenção de sair do Mercosul, um movimento que abalaria esse bloco econômico onde Brasil e Argentina são membros
"Essas medidas radicais, como o fim do Banco Central e a dolarização da economia, deixam incertezas, principalmente para o Brasil, que é um grande parceiro da Argentina. A relação comercial pode enfrentar desafios, mas é preciso aguardar para ver quais promessas de campanha serão efetivamente implementadas."
Bastos pondera sobre a viabilidade de algumas propostas, como o fim do Banco Central e a dolarização da economia, destacando a possibilidade de dificuldades práticas. "Não sei se ele consegue dolarizar a economia porque ele não tem dólares suficientes. Acredito que ele enfrentará dificuldades na relação política com o governo brasileiro, mas a relação comercial não deve desaparecer, apesar das diferenças ideológicas."
Diante desse cenário de mudanças, Bastos enfatiza a necessidade de aguardar a posse de Milei em dezembro para avaliar as ações efetivas do novo presidente. "Grande parte daquilo que ele disse na campanha pode encontrar obstáculos, considerando a grave crise financeira na Argentina e a falta de maioria no congresso para implementar as reformas desejadas."
Fonte: Cada Minuto
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