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Saiba quem era a estudante que morreu após receber superdosagem de remédios em hospital

Por Elisângela Costa em 12/08/2023 00:03:53

No auge da juventude, a estudante de administração Vitória Cristina Queiroz dos Santos, de 21 anos, fazia planos para o futuro. Segundo a família, era vaidosa, alegre e determinada. Adorava se arrumar para tirar fotos e ouvir músicas do grupo sul-coreano favorito BTS. Mas no começo de julho deste ano, Vitória teve seus sonhos interrompidos. Ela morreu após receber uma superdosagem de medicamentos calmantes no Hospital Nosso Senhor do Bonfim, em Silvânia, onde deu entrada por uma crise de ansiedade. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.

“A vitória era alegre, tinha uma risada gostosa, era perfeccionista em tudo que fazia. Tinha 21 anos, mas era igual criança e tudo que colocava na cabeça tinha que fazer. Foi muito amada, tudo que era possível fazíamos por ela. Ela era fã dos BTS, fez o pai dela levá-la ao cinema para ver eles e ainda esperar do lado de fora, porque só tínhamos dinheiro para o ingresso e lanche dela”, lembra a mãe da jovem, a farmacêutica Raquel Príncipe dos Santos.

Desde a morte da garota, toda a família está abalada. Raquel diz que passa 24 horas por dia medicada para tentar aguentar a situação e, ainda, cuidar dos outros quatro filhos. Ela conta que Vitória era a filha mais velha e muito apegada à irmã Isadora, de apenas 1 ano e 6 meses de vida.

“Estamos todos com crises de ansiedade e depressão. Estou medicada 24 horas pra conseguir aguentar. Os irmãos dela estão sofrendo, dói olhar para a Isadora e saber que a Vitória fez tantos planos pra ela e não vai ver a irmã crescer. Minha família foi destruída, só quem perdeu fomos nós”, desabafa.

Entenda a morte

Por volta das 17 horas do dia 3 de julho, Vitória começou a passar mal com sintomas de crise de ansiedade e procurou o hospital de Silvânia, onde já era acostumada a ir quando apresentava esses sintomas. O advogado da família, Jales Gregório, afirma que apesar de nervosa, a estudante estava consciente e conversando.

No entanto, durante o atendimento, o médico passou os remédios fentanila e midazolam, que segundo o advogado da família, possuem a finalidade de intubação e não ansiedade. Além disso, segundo Jales, a dosagem prescrita era muito maior do que a recomendada. “Normalmente utilizam para entubação 1 a 1.2 microgramas de um dos remédios, por peso. Ela teria que tomar 50 microgramas, mas foram aplicadas 4 ampolas de 10 miligramas, 2 mil microgramas”, explicou.

Pouco tempo depois de receber a superdosagem, Vitória teve uma parada cardiorrespiratória e foi encaminhada para a UPA Buriti Sereno, em Aparecida de Goiânia. Lá, os médicos constataram um dano cerebral muito grande e, no dia 5 de julho, a transferiram para o Hospital Municipal de Aparecida. No local, no dia 9 de julho, os médicos confirmaram a morte cerebral da estudante.

Em nota, a Prefeitura de Aparecida informou que o município pode receber pacientes de Silvânia, contudo, não divulga informações de prontuário médico de qualquer paciente sem a permissão dos familiares. Informou também que colabora com a Justiça.

Já a Prefeitura de Silvânia disse que no dia 31 de julho deu início a um Processo Administrativo (PAD) para apurar a conduta de profissionais durante o atendimento à Vitória. Reforçou que os envolvidos no caso estão afastados da unidade hospitalar e que o "Governo de Silvânia segue acompanhando e colaborando com as investigações".

Mãe desconfiou de superdosagem

Raquel é farmacêutica e trabalha no hospital de Silvânia onde a filha recebeu a superdosagem. Ela conta que desconfiou da conduta dos profissionais e, por isso, exigiu que fossem entregues os prontuários médicos com as informações dos remédios e as quantidades aplicadas na filha no dia em que ela deu entrada no hospital.

A documentação, inicialmente, desapareceu após o pedido da farmacêutica. Mas como Raquel trabalhava no local, conseguiu a prescrição feita pelo médico e, imediatamente, percebeu que havia algo de errado.

“Eu já tinha levado ela outras vezes com ansiedade e vi a diferença do protocolo do médico que a atendeu da última vez. Fiquei sabendo quais foram as medicações porque fui atrás. Em nenhum momento me falaram o que estavam fazendo nela, então desconfiei porque o estado que ela ficou não condizia com o protocolo de ansiedade”, relata a mãe.

Investigações

A Polícia Civil começou a investigar o caso no dia 18 de julho. De acordo com o delegado Leonardo Sanches, um dos responsáveis pelo inquérito, a equipe policial solicitou ao hospital toda a documentação referente ao atendimento prestado à Vitória. Durante análise, constatou que houve a falsificação de documentos e a omissão de dados e informações do prontuário da jovem.

As investigações apontam que a coordenadora das enfermeiras do hospital é suspeita de ter produzido documentos omitindo a quantidade, procedimentos e remédios administrados pelas enfermeiras na paciente. Já o médico que atendeu Vitória, é suspeito de preencher um prontuário falso sobre o que administrou na paciente.

Em nota, o Conselho Regional de Enfermagem de Goiás (Coren-GO) disse que "após tomar conhecimento do fato, abriu por meio de denúncia de ofício, um Procedimento Ético Disciplinar (PED) apurar a atuação da possível profissional no caso".

Já o Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) informou que não foi notificado sobre qualquer ação da Polícia Civil envolvendo investigações contra o médico. Disse também que "todas as denúncias relacionadas à conduta ética de médicos tramitam em total sigilo".

Além dos profissionais citados, a polícia também investiga a secretária de saúde de Silvânia, Laydiane Gonçalves Ribeiro. A servidora é suspeita de tentar suprimir informações verdadeiras dos documentos médicos, mas também de coagir funcionários que testemunharam o ocorrido e foram intimados pela polícia a prestar depoimento.

A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Laydiane, nem do médico e nem da coordenadora das enfermeiras. Todos eles foram afastados de seus cargos, segundo a Polícia Civil.

Segundo o delegado, os suspeitos negaram em depoimento a omissão dos dados e reafirmaram que todas as informações de procedimentos e medicamentos administrados na estudante estão nos documentos entregues por eles.

Enquanto as investigações caminham, a família de Vitória espera ansiosa por justiça. “Nesse momento eu só almejo justiça e que os culpados sejam punidos”.


Fonte: G1

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