Depois de dez meses de escassez, o sururu, símbolo da culinária e cultura alagoana, reapareceu na Lagoa Mundaú. Catadores que vivem na região do Vergel do Lago comemoram a volta do molusco, que é o sustento de mais de 3 mil famílias da localidade.
O sumiço do sururu pode ter ligação com a salinidade reduzida por conta do excesso de chuvas que caiu no estado entre os meses de maio e junho de 2022, e também por fatores ligados à poluição. Fato é que a falta do molusco gerou uma séria crise socioeconômica para quem vive, exclusivamente, do produto em Maceió. Muitas famílias passaram esse período sobrevivendo por meio de programas sociais. Mas a renda nem sempre era suficiente.
O líder comunitário do Vergel do Lago, conhecido como Baiano, disse que muitas famílias tiveram que pescar o sururu na cidade de Roteiro, no Litoral Sul de Alagoas, mas, a atividade gerou muita despesa e reduziu o número de pessoas que tinham condições de se locomover para o outro município.
“Quem tinha carro, por exemplo, ia para Roteiro catar porque lá não foi afetado, mas tudo isso gerava um custo extra, que muitas vezes pesava para o catador. Outras pessoas sobreviveram aqui com pagamentos de auxílio dos governos federal e estadual, pagamento de aluguel social, mas não era suficiente. Muita gente sofreu nesse período”, disse.
Agora, a situação está voltando à normalidade e está enchendo os catadores de esperança. “Para quem trabalha com o sururu foi muito ruim ficar esse período sem poder catar, mas a esperança está voltando e, se Deus quiser, tudo vai melhorar”, afirma Benedito Ferreira, catador há 55 anos.
Apesar do retorno, os catadores estão preocupados com a grande quantidade de sururu branco encontrado na lagoa. Eles não sabem o motivo dos moluscos estarem assim, mas acreditam que tenha a ver com a poluição da lagoa.
“Não sabemos o porquê desse sururu branco, mas acreditamos que seja algum agente químico que está presente na água da Lagoa Mundaú. Isso prejudica bastante porque ele não pode ser consumido. A água da lagoa também está diferente, a cor mudou, tudo isso é reflexo da poluição das nossas águas e o poder público não faz nada”, expôs Baiano.
Falta do molusco gerou séria crise socioeconômica para quem vive do produto - Foto: Ailton Cruz
O sururu retirado da Lagoa Mundaú também beneficia catadores do Trapiche da Barra, Bebedouro, das cidades de Santa Luzia e Coqueiro Seco. O molusco está voltando aos poucos, mas já é motivo de alegria para quem sobrevive da venda dele. É o caso de Silvaneide da Silva, que sustenta os quatro filhos com a venda do sururu. Ela e o esposo trabalham no ramo. “Estamos muito felizes, você não imagina o quanto. Deus nos abençoou e eu sou muito grata. Só nós sabemos o quanto foi difícil passar por esse período”.
Ela é uma das catadoras que teve a possibilidade de se deslocar para o município de Roteiro. No entanto, por dia, ela pagava R$ 150 apenas de frete. O quilo do sururu chegava a custar R$ 30. “Hoje ainda vou cozinhar o sururu de Roteiro, mas a partir de amanhã já vai ser daqui. O daqui é sempre mais barato, mas ainda não sabemos quanto vai custar. Algumas pessoas estão conseguindo pegar 20 latas, mas ainda vai melhorar, quando tudo normalizar”, disse Silvaneide.
Aos poucos, os catadores vão retomando à vida. “Antes da escassez, o catador pegava de 15 a 20 latas, que rendem até 5kg de sururu, agora está pouco, de 3 a 4 latas, quando termina de limpar, fica em torno 2kg, mas vai melhorar e a gente aguarda isso”, ressalta Baiano. No Vergel do Lago, 70% da população vive do molusco.
“A cadeia que envolve o sururu é muito grande. São muitos empregos gerados, desde o catador, que volta com as latas cheias de sururu, às mulheres que limpam, a pessoa que carrega o molusco e quem vende aqui mesmo ou nas feiras. Muitas pessoas são beneficiadas”.
Quanto ao sururu branco, a catadora disse que, com a medida que se volta a mexer na lagoa, a tendência é que essa espécie de origem desconhecida suma da Lagoa Mundaú. “Mas ele não é próprio para consumo, porque o miolo dele é preto”, explica Silvaneide.
*Com GazetaWeb
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