Dezenove anos separam o álbum de estreia do sétimo disco de Vanessa da Mata, Vem Doce, lançado nesta quarta-feira (8). O novo trabalho da artista é composto de 13 músicas e, em entrevista ao R7, a artista conta que enxerga o projeto como um retrato do Brasil contemporâneo, uma crônica do dia a dia. Em diálogo com essa ideia, a cantora passeia por diferentes estilos musicais ao longo das faixas e ressalta a importância da diversidade de ritmos, em oposição a um mercado fonográfico dominado por um só som.
"Cabem todos os gêneros musicais, o que não dá é para ser só um. Isso gera uma pobreza intelectual muito grande. O que a gente tem de mais rico e mais legal são essas variedades. Em algum momento uma te traduz mais do que a outra", diz.
Como exemplo dessa dominação por apenas um ritmo musical, Vanessa cita um período em que o mercado brasileiro estava quase que completamente voltado ao sertanejo. Na visão da cantora, essa situação fez com que outros artistas sofressem uma competição muito grande para chegar no público e acabou por afastar novas gerações da música brasileira.
"Entraram outros ritmos que vão dar uma balançada. Os sertanejos são muito unidos com o agronegócio, existe muita injeção de dinheiro, eles compram rádios inteiras. É muito difícil concorrer com isso no mercado. Isso, de certa forma, vai eliminando gêneros musicais inteiros com o tempo. É como um grande mercado chegar em uma região e fechar vários mercadinhos na redondeza. Quando começa a ser muito um gênero musical, em um dado momento o povo não aguenta e vai buscar outras opções na música internacional e começam a sair fora do que é pago e imposto", explica.
Vanessa da Mata passeia por diferentes ritmos musicais em novo álbum PRISCILA PRADE/DIVULGAÇÃO
Em oposição a essa lógica, a cantora procurou fazer um trabalho plural no novo álbum. Para isso, Vem Doce tem colaborações com amigos de longa data, como Ana Carolina e Marcelo Camelo, e também com artistas jovens, como João Gomes e L7nnon. Ela lembra que conheceu o cantor de piseiro de maneira inusitada e foi por meio dele que se encontrou com o rapper.
"O João Gomes me mandou um direct no Instagram perguntando se ele estragou a música Amado e perguntando o que eu achava. Mandei meu telefone e falei: 'Para de ser doido, menino, Me liga'. A gente conversou, ele me chamou para o DVD. Ele é um fã e aprendeu as minhas músicas com a mãe, tocando em casa, e é um menino maravilhoso, de uma cultura musical impressionante. Fiquei muito feliz em conhecer João, tenho muito orgulho dele", conta.
Foi no dia da gravação do DVD que Vanessa conheceu L7nnon. A cantora disse que os filhos são fãs de rap e de trap, por isso se familiarizou com o gênero musical por meio deles. Então, quando conheceu o dono do hit Ai Preto, convidou-o para gravar a música Fique Aqui, pois enxerga o rap como "o novo rock 'n' roll": "Você consegue falar de tudo porque ele é livre. Essa liberdade dá muito mais prosa".
Com parcerias com artistas jovens, Vanessa diz ser automático que sua música chegue a um público mais novo. A cantora celebra esse tipo de colaboração e considera importante a troca entre artistas de diversas gerações. Para ela, os remixes de músicas por DJs de eletrônico e sertanejo também servem a esse propósito, pois levam a MPB a novos ouvintes e mostram como esse estilo musical também pode estar presente na cena da noite.
"Desde o início da carreira, desde uma época em que as pessoas da minha do MPB não gostavam de liberar os remixes para DJs, eu amava. Achava que a música brasileira tinha esse lugar na noite, que podia tocar, que podia trazer essa galera que não conhece música brasileira, que tinha um certo preconceito, acha velho ou qualquer coisa assim, para ouvir música brasileira e ver que não existe nada de velho."
Vanessa da Mata gravou com João Gomes e avó dele esteve nos bastidores do clipe REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
Sempre apaixonada pela música e pela cultura brasileira, Vanessa da Mata teve o Brasil como maior inspiração para compor as músicas do Vem Doce e criar o álbum. A artista conta que o disco começou com 21 músicas, mas após um processo de edição decidiu fechar o trabalho com as 13 faixas que falam de diferentes assuntos, desde temas corriqueiros até uma análise do país.
"Acho que essas crônicas são bem realistas com o nosso cotidiano. Quem não tem uma vizinha enjoada? Quem não tem um amigo fofoqueiro? 'Vem Doce' querendo que aconteça, uma foice querendo explodir de falar coisas que nos afetam e são perversas e terríveis, ou a 'Face e Avesso' de uma profunda análise do intestino brasileiro até a sua face", comenta.
Vanessa diz que todas as faixas do álbum são a visão dela sobre situações que vê ou experimenta. A artista diz que o que liga todas as músicas é a "necessidade das crônicas, do contar o dia a dia brasileiro". A cantora também revela que o projeto é fruto de uma maturidade artística e do momento em que se encontra atualmente.
"Foi um encontro dos meus filhos já terem crescido, saído da adolescência, eu já estar bem resolvida. Acho que os primeiros álbuns sempre são mais tensos e muitas vezes, conforme o lançamento na indústria. Às vezes, a indústria está em um momento que dificulta ou facilita mais. Esse momento que estou vivendo, de não ter gravadora, ser independente já há algum tempo, já há vários discos, me traz uma segurança", conclui.
Agenda da turnê Vem Doce
5/5 - Recife (PE)
6/5 - Feira de Santana (BA)
7/5 - Salvador (BA)
20/5 - João Pessoa (PB)
26/5 - São Paulo (SP)
27/5 - Rio de Janeiro (RJ)
2/6 - Natal (RN)
5/8 - Porto Alegre (RS)
*Com R7
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